O impeachment da presidente Dilma Rousseff seria um “ataque contra [as] instituições democráticas”, alertaram 22 artistas e intelectuais internacionais que assinaram uma carta endereçada aos senadores brasileiros. A carta, publicada nesta quarta-feira, dia 24, descreve “ondas de choque negativas” que “irão reverberar em toda a região” se a presidente for afastada do cargo. O julgamento final está marcado para começar no Senado nesta quinta-feira, dia 25.
No documento, profissionais de cultura do Reino Unido, da Índia, do Canadá e dos Estados Unidos pedem aos parlamentares que “respeitem o processo eleitoral de 2014, quando mais de 100 milhões de pessoas votaram”.
Encabeçam a lista do abaixo-assinado o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali e o cantor, compositor e ativista social Harry Belafonte. Entre as assinaturas, estão a do cineasta Oliver Stone, que escreveu e dirigiu Plantoon; a da atriz americana Susan Saradon, conhecida famosa por sua atuação em Thelma & Louise e por sua atuação política, e do ator Viggo Mortensen, famoso por interpretar o Aragorn, um dos protagonistas da saga Senhor dos Anéis
Este não é o primeiro sinal de reprovação que intelectuais e artistas estrangeiros dão ao processo de impeachment. Em maio, durante a Conferência Internacional de Filosofia e Ciências Sociais em Praga, na República Tcheca, um manifesto foi apresentado por acadêmicos brasileiros, contando com assinaturas de filósofos estrangeiros. Entre os apoiadores internacionais estavam os filósofos alemães Jürgen Habermas, Axel Honneth e Rainer Forst, a filósofa norte-americana Nancy Fraser e o filósofo canadense Charles Taylor.
Este mês, membros do Congresso Americano também entregaram uma carta similar ao Secretário de Estado americano, John Kerry, com 40 assinaturas. Em seguida, 115 figuras públicas britânicas, entre elas 35 parlamentares, assinaram um documento se posicionando contra o processo de impeachment no Brasil.
Desta vez, a ação é um apoio a inúmeros profissionais brasileiros da área de cultura que já se manifestaram contra o processo de impeachment. “Centenas de músicos, atores, escritores, cineastas e outros artistas têm se pronunciado corajosamente contra os esforços antidemocráticos em remover a presidente eleita, Dilma Rousseff, de sua função. Queremos mostrar a eles, e ao Brasil, e ao mundo, que artistas e intelectuais dos Estados Unidos, Reino Unido e outras partes do mundo estão ao seu lado e apoiam sua luta por democracia, direitos humanos e justiça social no Brasil”, explica o compositor e cantor britânico Brian Eno.
Leia abaixo a carta na íntegra:
Artistas e intelectuais apoiam a democracia no Brasil
Nos solidarizamos com nossos colegas artistas e com todos aqueles que lutam pela democracia e justiça em todo o Brasil.
Estamos preocupados com o impeachment de motivação política da presidenta, que instalou um governo provisório não eleito. A base jurídica para o impeachment em curso é amplamente questionável, e existem evidências convincentes demonstrando que os principais promotores da campanha do impeachment estão tentando remover a presidenta com o objetivo de parar investigações de corrupção nas quais eles próprios estão implicados.
Lamentamos que o governo interino no Brasil tenha substituído um ministério diversificado, dirigido pela primeira presidente mulher, por um ministério compostos por homens brancos, em um país onde a maioria se identifica como negros ou pardos. Tal governo também eliminou o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Visto que o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, estes acontecimentos são de grande importância para todos os que se preocupam com igualdade e direitos civis.
Esperamos que os senadores brasileiros respeitem o processo eleitoral de 2014, quando mais de 100 milhões de pessoas votaram. O Brasil emergiu de uma ditadura há apenas 30 anos, e esses eventos podem atrasar o progresso do país em termos de inclusão social e econômica por décadas. O Brasil é uma grande potência regional e tem a maior economia da América Latina. Se este ataque contra suas instituições democráticas for bem sucedido, ondas de choque negativas irão reverberar em toda a região.
Assinado:
Tariq Ali – Escritor, jornalista e cineasta
Harry Belafonte – Ativista, cantor e ator
Noam Chomsky – Professor emérito de Linguística no MIT, teórico e intelectual
Alan Cumming – Ator e autor
Frances de la Tour – Atriz
Deborah Eisenberg – Escritora, atriz e professora
Brian Eno – Compositor, cantor, artista visual e produtor
Eve Ensler – Dramaturga, autora de “Os Monólogos da Vagina”
Stephen Fry – Locutor de rádio, ator, diretor
Danny Glover – Ator e diretor de cinema
Daniel Hunt – Produtor musical e cineasta
Naomi Klein – Escritora e cineasta
Ken Loach – Cineasta
Tom Morello – Músico
Viggo Mortensen – Ator e músico
Michael Ondaatje – Novelista e poeta
Arundhati Roy – Autora e ativista
Susan Sarandon – Atriz
John Sayles – Roteirista, diretor e novelista
Wallace Shawn – Ator, dramaturgo e comediante
Oliver Stone – Cineasta
Vivienne Westwood – Estilista
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