LOS ANGELES, CA - SEPTEMBER 7:  Marijuana plants grow at Perennial Holistic Wellness Center, a not-for-profit medical marijuana dispensary in operation since 2006, on September 7, 2012 in Los Angeles, California. A group of activists have submitted about 50,000 signatures in an effort to force a referendum on a marijuana dispensary ban in Los Angeles to take effect next week. A minimum of 27,425 valid signatures from registered voters is needed to let voters decide on the issue in March, and until the number can be verified, the ban will not be enforced. . The ban would not prevent patients or cooperatives of two or three people to grow their own in small amounts. Californians voted to legalize medical cannabis use in 1996, clashing with federal drug laws.  (Photo by David McNew/Getty Images)

Indústria farmacêutica financia campanha contra legalização da maconha temendo prejuízos

A Insys Therapeutics diz à imprensa que é motivada pela preocupação com crianças e, a investidores, que a legalização da maconha afetaria suas vendas.

LOS ANGELES, CA - SEPTEMBER 7:  Marijuana plants grow at Perennial Holistic Wellness Center, a not-for-profit medical marijuana dispensary in operation since 2006, on September 7, 2012 in Los Angeles, California. A group of activists have submitted about 50,000 signatures in an effort to force a referendum on a marijuana dispensary ban in Los Angeles to take effect next week. A minimum of 27,425 valid signatures from registered voters is needed to let voters decide on the issue in March, and until the number can be verified, the ban will not be enforced. . The ban would not prevent patients or cooperatives of two or three people to grow their own in small amounts. Californians voted to legalize medical cannabis use in 1996, clashing with federal drug laws.  (Photo by David McNew/Getty Images)

Recentemente, executivos de empresas farmacêuticas americanas fizeram uma grande doação para uma campanha contra a legalização da maconha e a justificaram como sendo uma preocupação com a segurança das crianças. Mas o dossiê de investidores da empresa mostra que a maconha representa uma ameaça direta aos planos de lucrar com um produto de maconha sintética desenvolvido pela empresa.

Em 31 de agosto, a empresa Insys Therapeutics Inc. doou 500 mil dólares para a organização “Povo do Arizona por Políticas Responsáveis de Drogas” (Arizonans for Responsible Drug Policy), se tornando o maior doador do grupo que lidera a campanha contra a aprovação do referendo para legalizar a maconha no Arizona.

A empresa farmacêutica, que atualmente fabrica uma versão de efeito acelerado do analgésico fentanil, garantiu a um repórter local que tinha feito a considerável doação pensando no bem comum. Um porta-voz contou ao Arizona Republic que a Insys se opõe à medida de legalização, Prop. 205, “porque ela não protege os cidadãos do Arizona, em especial, as crianças”.

Na sexta-feira (9), uma reportagem do Washington Post mencionou o potencial autointeresse por trás da doação da Insys.

O dossiê de investimento examinado pelo The Intercept confirma o óbvio.

No momento, a Insys está desenvolvendo um produto chamado Dronabinol Oral Solution (solução oral), um remédio que utiliza uma versão sintética do tetraidrocanabinol (THC) para aliviar náusea e vômito causados por quimioterapia. Em um dossiê relacionado ao dronabinol, onde são analisadas preocupações de mercado e concorrência, a Insys registrou uma declaração informativa com a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, da sigla em inglês) deixando claro que a legalização da maconha é uma ameaça direta à sua linha de produtos:

“A legalização da maconha ou de outros canabinoides naturais nos EUA pode limitar significativamente o sucesso comercial de possíveis produtos de dronabinol. Se a maconha ou outros canabinoides naturais forem legalizados nos EUA, o mercado de produtos compostos por dronabinol seria consideravelmente reduzido, nossa capacidade de gerar receita e o futuro de nossos negócios seriam concretamente afetados de forma negativa”.

A Insys explica no dossiê que o dronabinol é “um dos poucos canabinoides sintéticos aprovados pela FDA [Food and Drug Administration – responsável pelo controle de alimentos e medicamentos] nos EUA e, “portanto, nos EUA, produtos de dronabinol não precisam concorrer com a cannabis natural ou canabinoides naturais”.

A empresa admite que a literatura científica defende que os benefícios da maconha são maiores do que os benefícios do dronabinol sintético, e que o apoio à legalização da maconha vem crescendo. No último formulário 10-K de desempenho financeiro arquivado com a SEC, em uma seção que aborda as ameaças da concorrência, a Insys alertou que diversos estados “já haviam aprovado leis que legalizavam a maconha para uso medicinal e recreativo”.

O Subsys, spray de fentanil fabricado pela Insys, é usado como um analgésico de efeito rápido. Ele é um opiáceo que foi manchete nos últimos anos, à medida que aumentou o número de americanos com overdose da substância. O fentanil é 50 vezes mais forte do que a heroína e foi associado à morte do cantor Prince no começo do ano. No mês passado, dois executivos da Insys se declararam culpados por um esquema em que usavam os honorários pagos a palestrantes para que médicos prescrevessem o Subsys a seus pacientes.

Os defensores da causa defendem que a maconha legalizada tem diversas finalidades médicas, incluindo o uso analgésico.

Não é a primeira vez que empresas farmacêuticas ajudam a financiar a oposição à reforma nas leis que regulam a droga. A Coalizão Comunitária Contra as Drogas da América (Community Anti-Drug Coalition of America), órgão sem fins lucrativos que organiza o ativismo em todo o país, recebe patrocínio corporativo da Purdue Pharma, fabricantes da Oxicodona, e da Janssen Pharmaceuticals, outro fabricante de opiáceos, há muito tempo.

J.P. Holyoak, presidente da Campanha para Regulamentar a Maconha como o Álcool (Campaign to Regulate Marijuana Like Alcohol), um grupo que apoia ao referendo de legalização, publicou uma nota condenando a doação da Insys. “Nossos adversários tomaram uma decisão consciente de se associarem com essa empresa”, contou Holyoak. “Estão financiando a campanha com os lucros da venda de opiáceos — e, talvez, até com a venda irregular de opiáceos”.

Foto principal: Planta de maconha cultivada no Perennial Holistic Wellness Center em Los Angeles.

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